quinta-feira, 20 de março de 2014

Desigualdades e Diferenças da perspectiva de indígenas e quilombolas

Os  indicadores  agregados  e  as  médias  nacionais,  que  tem  servido  de base  a  uma  representação  otimista do nosso processo de superação das desigualdades, devem ser lidos com  mais atenção, em especial no que se refere aos impactos das políticas de “combate  à  pobreza”  sobre  populações  específicas,  como  aquelas  definidas  por  recortes  étnico-teritoriais.
Em contra-partida da primeira a esta consideração, é preciso reconhecer que a análise  das realidades indígena e quilombola, hoje, deve dialogar com o debate mais amplo  sobre  a  “estrutura  de  desigualdades”  no  Brasil,  tendo  em  conta  as  diferentes  formas de inserção dessas populações nesta estrutura, assim como os impactos das  políticas públicas que resultam deste debate.  Esta segunda hipótese está sustentada em duas observações.
Ao longo dos últimos  quase  15  anos  houve  a  tendência  em  fazer  com  que  as políticas  de  Estado  para  indigenas  e  quilombolas  fossem  cada  vez  mais  transversalizadas,  ou  seja,  deixassem  de  ser  atribuição  de  órgãos  públicos  específicos  (no  caso  indígena,  tutelares),  para  serem  incorporados  às  atribuições  de  diferentes  ministérios,  transformando tais populações em públicos “diferenciados” das mesmas políticas  “universais”. Isso impacta tanto a formulação e gestão das políticas, em especial as  fundiária,  de  educação  e  saúde,  que  se  obrigam  contemplar  as  especificidades  daquelas  populações,  quanto  as  próprias  populações  em  causa,  que  se  veem  obrigadas  a  se  adaptar  a  um  novo  padrão  de  relação  como  o  Estado  e  com  a  sociedade  envolvente. 
Por  outro  lado,  ao  longo  deste  mesmo  período,  a  ação  do  Estado  Brasileiro  esteve  marcada  por  avanços  sociais  baseados  em  políticas  que  têm em vista justamente o combate à pobreza e que são estendidas às populações  indígenas  e  quilombolas  sem  qualquer  adaptação,  mesmo  quando  as  toma  como  público privilegiado. Uma ação contraditória com relação à primeira, na medida em  que tende a assimilar tais populações à massa dos “pobres”.
Assim, assumimos como válido o desafio de transpor para a análise daquelas populações  as  perguntas  relativas  à  “estrutura  de  desigualdades” brasileira  e  sua  recente  evolução,  que  em  geral  as  têm  deixado  de  fora. Com base nisso, demos início a uma reflexão coletiva, que pretende articular diferentes projetos individuais, em torno do tema dos Desiguais Diferentes.

Link para post apresentando este projeto: blog Étnico
Para outras produções sobre o tema: Textos sobre Quilombos

quarta-feira, 19 de março de 2014

ETNICIDADE - Dicionário crítico das ciências sociais dos países de fala oficial portuguesa


Dicionário crítico das ciências sociais dos países de fala oficial portuguesa / org., Livio Sansone e Cláudio Alves Furtado ; prefácio, Lilia Moritiz Schwarcz ; apresentação [feita pelos organizadores], com a colaboração de Teresa Cruz e Silva.- Salvador: EDUFBA, 2014. 494 p. (ISBN 978-85-232-1149-3)


SUMÁRIO

7 Prefácio -Por um dicionário reflexivo e em constante construção - Lilia Moritz Schwarcz e Omar Ribeiro Thomaz
25 Apresentação - Lívio Sansone e Cláudio Alves Furtado, com a colaboração de Teresa Cruz e Silva
31 Assimilacionismo - Lorenzo Macagno
45 Colónia, colonização, colonial e colonialismo - Isabel Castro Henriques
59 Corrupção - Elísio Macamo
75 Crioulo, crioulização - Wilson Trajano Filho
91 Desenvolvimento - Cláudio Alves Furtado
105 Desigualdade e igualdade - José Maurício Domingues
123 Ecumenismo - Emerson Giumbelli
131 Elites negras - Angela Figueiredo e Cláudio Alves Furtado
151 Emancipação - Severino Elias Ngoenha
165 Escravidão - Flávio Gomes
187 Escritores e os projetos de emancipação - Rita Chaves
199 Etnicidade - José Maurício Arruti
215 Índio, índios - Maria Rosário de Carvalho e Ugo Maia Andrade
253 Leis, legislação - João Feres Júnior e Christian Edward Cyril Lynch
271 Língua - Omar Ribeiro Thomaz e Sebastião Nascimento
291 Literatura - Inocência Mata
305 Lusotopia - João de Pina Cabral
309 Mestiçagem - Verônica Toste Daflon
331 Migração - Igor José de Renó Machado e Douglas Mansur da Silva
349 Militarismo - Jorge da Silva
363 Modernidade e tradição - Elísio Macamo
379 Patrimônio - Antonio Motta
393 Raça - Livio Sansone
413 R elações diplomáticas entre o Brasil e a África - Alberto da Costa e Silva
423 Religião - Teresa Cruz e Silva
431 Terra - Antonádia Borges
443 Territorialidade - Emília Pietrafesa de Godoi
453 T rabalho: Brasil, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe - Valdemir Zamparoni, Gino Negro, Maciel Santos, Alexander Keese e Augusto Nascimento
473 Sobre os autores

domingo, 9 de março de 2014

29a. RBA - GT 45 - Histórias indígenas e Contextos do Indigenismo: classificações, territórios e reflexividade cultural

GT 45. Histórias indígenas e Contextos do Indigenismo: classificações, territórios e reflexividade cultural


Coordenadores: José Maurício Paiva Andion Arruti (UNICAMP) e Maria Rosário Gonçalves de Carvalho (Universidade Federal da Bahia)



Este GT pretende retomar, e renovar, uma linha consagrada da reflexão sobre os povos indígenas, qual seja, a da História Indígena e do Indigenismo, assim como homenagear um dos seus principais expoentes entre nós, John Monteiro (1956-2013). Para isso, além de apontar a necessidade de pluralizar as histórias indígenas e de reler o indigenismo em seus variados contextos, propomos realizar este duplo movimento a partir do cruzamento de três temas. (a) Das classificações sociais: questões relativas à própria construção e reconstrução da noção de índio e de indígena, e que mobiliza desde as lógicas de distinção e alianças locais até os mecanismos de nominação coloniais e nacionais. (b) Dos territórios: considerando desde uma etnologia das territorialidades nativas até o que temos denominado de processos de territorialização, para designar o modo especifico pelo qual o território é usado como modo de definir unidades de intervenção estatais. (c) Da reflexividade cultural: modos pelos quais os povos indígenas têm apreendido, incorporado e ressignificado categorias científicas, jurídicas e administrativas, o que nos impele a pensá-las de outro modo que não como simples objeto de saber-poder, ou como cosmologias encerradas em si mesmas. Cruzam tais eixos temas como, as sobreposições territoriais, as etnogêneses, as estratégias de performatividade identitária, as figuras indígenas de mediação cultural, tais como os tradutores, capitães, professores e funcionários do órgão indigenista.

INSCRIÇÕES: http://www.29rba.abant.org.br/inscricoes/capa

quarta-feira, 5 de março de 2014

Curso: Antropologia no Brasil

2014.1

Graduação
Antropologia no Brasil
HZ465 A

EMENTA:
Este curso oferece um amplo painel do percurso da Antropologia no Brasil, que cobre um período próximo a 100 anos. Para isso começaremos com uma reflexão sobre os possíveis sentidos de se falar de uma Antropologia situada, tendo por referência um recorte nacional. Em seguida retornamos até um momento anterior à institucionalização de uma disciplina acadêmica (1870-1930), mas que estão associados à construção de uma reflexão sobre a nação com base no conceito de raça. A partir daí daremos uma atenção especial às direções dadas à reflexão sobre os dois grandes campos de alteridade trabalhados pela Antropologia do período até meados da década de 1980, os estudos sobre o negro e sobre relações étnico-raciais, e a etnologia indígena, associada ou não à reflexão indigenista.  Simultaneamente a isso, procuramos fazer apontamentos gerais sobre os dois momentos cruciais de institucionalização da disciplina, entre 1930 e 1960 e entre 1960 e 1990. Ao final faremos uma breve reflexão sobre dois grandes debates travados no final do período contemplado e que ainda deixam suas marcas sobre os dois campos de estudos privilegiados aqui.

AVALIAÇÃO:
Será composta de duas notas. Na primeira nota serão cobrados relatórios de leitura para cada Bloco discriminado abaixo menos um, que será objeto de apresentação de seminário: 5 relatórios (5 pontos) mais 1 seminário (5 pontos). A segunda nota será relativa à apresentação de um trabalho final (10 pontos). A soma dessas duas notas será dividida por dois para definir a média final.

PROGRAMA [sujeito a ajustes]

Aula 1 – Apresentação do curso 

Bloco 1 - Antropologia no Brasil: o Nacional entre estilo e identidade 
(aulas 2 e 3 )

  • CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. 1988. ‘‘O que é isso que chamamos de Antropologia Brasileira’’, in Sobre o Pensamento Antropológico, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.
  • CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto e RUBEN, Guillermo Raúl (orgs). 1995. Estilos de Antropologia. Campinas, Ed. da Unicamp,.
  • PEIRANO, Mariza Gomes e Souza. 1991 - "Os antropólogos e suas linhagens" Revista Brasileira de Ciências Sociais, 6(16):43-50, julho.
  • PEIRANO, Mariza. 1999. “Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada)”. In: Sergio Miceli (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo: Editora Sumaré, pp. 225-266.
  • PEIRANO, Mariza. 2004“In This Context”: As várias histórias da antropologia. In: PEIXOTO, Fernanda, PONTES, Heloísa, SCHWARCZ, Lília (orgs.). Antropologias, Histórias, Experiências. Belo Horizonte: Editora UFMG.


Bloco 2 - Fundações (1870-1930)
(aula  4) 
  • CARNEIRO, Édison. “Os estudos brasileiros do negro”. 1964. In: Ladinos e Crioulos. R.J, Civilização Brasileira.
  • CORRÊA, Mariza. 2001. As Ilusões da Liberdade: a escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. Bragança Paulista, São Francisco,.
  • FARIA, Luiz de Castro. 1993 - Antropologia. Espetáculo e excelência. Rio de Janeiro, Editora da UFRJ/Tempo Brasileiro.
  • MONTERO, John. 1996. As raças indígenas no pensamento brasileiro do Império. In: MAIO, Marcos Chor (org.) Raça, Ciência e Sociedade. Rio de Janeiro: FioCruz/CCBB.
  • SCHWARCZ, Lilia. 1989. O Nascimento dos Museus Brasileiros 1870-1910. In: MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. V. 1, São Paulo: Sumaré/FAPESP.

Bloco 3 - Visões gerais do período 1930-1960
(aula 5 e 6) 
  • CORREA, Mariza. 1988 - "Traficantes do excêntrico. Os antropólogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60". Revista Brasileira de Ciências Sociais, 6(3): 79-98, fevereiro.
  • LIMONGI, Fernando. 1989b A Escola Livre de Sociologia e Política em São Paulo. In: MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: IDESP/Editora Vértice/FINEP,. (Volume 1).
  • MASSI, Fernanda Peixoto. 1989 Franceses e Norte-Americanos nas Ciências Sociais Brasileiras (1930-1960). In: MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: IDESP/Editora Vértice/FINEP. (Volume 1).
  • PONTES, Heloisa. 1989. Retratos do Brasil: Editores, Editoras e “Coleções Brasilianas” nas décadas de 30, 40 e 50. In: MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: IDESP/Editora Vértice/FINEP. (Volume 1).
  • RUBINO, Silvana. 1995. Clubes de Pesquisadores: A Sociedade de Etnologia e Folclore e a Sociedade de Sociologia. In: MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: Editora Sumaré,. (Volume 2).

Bloco 4 - Relações étnico-raciais 
(aula 7 e 8) - Estudos sobre o Negro e a ruptura do Projeto UNESCO
  • ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. 1993. Guerra e Paz. Casa-Grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre na década de 30. Editora 34, Rio de Janeiro.
  • PEIXOTO, Fernanda. 2000. Diálogos Brasileiros: uma análise da obra de Roger Bastide, São Paulo, Edusp.
  • PRAXEDES, Rosangela Rosa. 2012. Projeto UNESCO: quatro repostas para a questão racial no Brasil. São Paulo: PUC (Tese de Doutorado em Ciências Sociais).
  • PEREIRA, Cláudio Luiz e SANSONE, Livio (org.). 2007. Projeto UNESCO no Brasil : textos críticos. Salvador : EDUFBA. (http://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/ceao-ufba/20130403104247/projeto.pdf)

(aula 9) – As relações étnico-raciais entre 1970-2000
  • SCHWARCZ, Lilia. 1999. “Questão racial e etnicidade”. In: Sergio Miceli (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo: Editora Sumaré, pp. 267-326.
  • FRY, Peter. 1982. Para Inglês ver. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
  • FRY, Peter e VOGT, Carlos. 1996. A África no Brasil: Cafundó. São Paulo: Companhia das Letras.
  • SANSONE, Lívio e PINHO, Osmundo A. 2008. Raça: novas perspectivas antropológicas.

Bloco 5 - Etnologia  
(aula 10) - indígena e indigenismo
  • CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto de. 1978 - A sociologia do Brasil indígena. 2ª ed. Brasília/Rio de Janeiro, Editora da UnB/Tempo Brasileiro.
  • CARDOSO De Oliveira, Roberto. 1981 [1964]. O Índio no Mundo dos Brancos. Brasília: Editora da Universidade de Brasília.
  • CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1987. Antropologia do Brasil: Mito, história, etnicidade. São Paulo: Brasiliense.
  • GRUPIONI, Luís Donisete Benzi & GRUPIONI. Maria Denise Fajardo. Depoimento de Darcy Ribeiro.Revista Brasileira de InformaçãoBibliográfica em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: n° 44, p. 03-30, 2° sem. 1997.

(aulas 11 e 12) - Direções da Etnologia
  • SEEGER, Anthony; DA MATTA, Roberto & CASTRO, Eduardo Batalha Viveiros de. 1987.  "A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras" In: OLIVEIRA, João Pacheco de,org. Sociedades Indígenas e indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro/São Paulo, Editora da UFRJ/Editora Marco Zero.
  • CASTRO, Eduardo Batalha Viveiros de. 1987.  "Alguns aspectos do pensamento Yawalpíti (Alto Xingu): classificações e transformações". In: OLIVEIRA, João Pacheco de (org.) IDEM.
  • TAYLOR, Anne-Christine. O Americanismo Tropical, uma fronteira fóssil da etnologia? [link
  • TURNER, Terence. 1993. "De Cosmologia a História: resistência, adaptação e consciência social entre os Kayapó", Viveiros de Castro, Eduardo & Carneiro da Cunha, Manuela (orgs.) Amazônia. Etnologia e História Indígena. NHII/USP, FAPESP.LIMA, Antônio C. de S. 1987. Sobre Indigenismo, Autoritarismo e Nacionalidade: considerações sobre a constituição do discurso e da prática da proteção Fraternal no Brasil. In: OLIVEIRA, João Pacheco de (org.) IDEM.
  • OLIVEIRA, João Pacheco de. 1987. O Projeto Tukuna: uma experiência de ação indigenista. OLIVEIRA, João Pacheco de (org.) IDEM.

Bloco 6 - Balanços gerais sobre o período recente 
(aulas 13 e 14) - 1960-2000
  • CORREA, Mariza. 1995. "A antropologia no Brasil (1960-1980)". História das Ciências Sociais no Brasil.Org. Miceli, S.P, Sumaré/FAPESP, vol. 2.
  • REIS, Elisa Pereira & REIS, Fábio Wanderley & VELHO, Gilberto. 1997 . As Ciências Sociais nos Últimos 20 Anos: três perspectivas. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol 12, nº 35, out..
  • RUBIM, Christina de Rezende. 1997 . Os Programas de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade de São Paulo e Universidade Estadual de Campinas. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre: UFRGS/IFCH/PPGAS, ano 3, n. 7, p. 97-128.
  • VELHO, Otávio. 2008. “A Antropologia e o Brasil, hoje”. Revista Brasileira De Ciências Sociais - Vol. 23 Nº. 66, pp. 5-9.

(aula 15) - O fim do século XX e a emergência de dois grandes divisores
  • CASTRO, Eduardo Batalha Viveiros de. 1999 – “Etnologia Brasileira” in MICELI, Sérgio (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). Sumaré, São Paulo.
  • OLIVEIRA, João Pacheco de 1999. A viagem da volta. Etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro, ContraCapa.
  • Revista Horizontes Antropológicos nº 23 - Seção Espaço Aberto (conferir os 20 artigos do debate sobre cotas raciais)