segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Disciplina Raça, Etnicidade e Identidade




IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Curso Ciências Sociais - Integral
Disciplina HZ069 - Raça, Etnicidade e Identidade
1º semestre de 2019, quintas, das 14:00 às 18:00, sala IH09
Prof. José Maurício Arruti


EMENTA:
Raça e etnicidade, como conceitos e como articuladores de diferenças e identidades, indicam distintos embates, como, por exemplo, entre biologia, cultura, e política. Contextualizar estes conceitos, seus usos e embates científicos e políticos, serão os objetivos desta disciplina.

PROGRAMA:
A “raça” está para a população negra ou afrodescendente como a “etnia” está para a população ameríndia? Ou a raça está para a desigualdade como a etnicidade está para a diversidade? Em que contextos empíricos ou analíticos é possível pensar na racialização das populações indígenas e na etnicização das populações afrodescendentes? Este curso foi pensado como um panorama introdutório à articulação dos conceitos de raça e etnia, tendo por referência o modo pelo qual eles sustentam uma antropologia das populações negra e indígena na América. Para isso percorreremos alguns textos importantes para a definição histórica e teórica desses conceitos, assim como para a elucidação dos seus usos nos contextos social e intelectual brasileiros. Em seguida buscamos entender como tais conceitos operam em discussões contemporâneas centrais às Ciências Sociais, como mistura e hibridismo, mobilidade e globalização, estado e classificações sociais, reconhecimento e etnogênese. As leituras privilegiam textos teóricos ou que ofereçam uma percepção abrangente dos temas abordados, mesclando antropologia, sociologia, história e demografia.

METODOLOGIA:
O curso será ministrado pelo professor responsável, assistido por dois monitores de pós-graduação (PEDs voluntários): Rosana Meneses e German Moriones Polanía, ambos alunos de doutorado do PPGCS. As aulas regulares serão divididas em duas partes:
A primeira parte (14:00-15:45) será dedicada à aula expositiva do professor (eventualmente de convidado ou dos monitores), que oferecerá uma síntese do tópico da aula e a contextualização dos autores e textos selecionados para a sessão, sempre aberta à intervenção dos alunos.
A segunda parte (16-17:45) será dedicada à discussão sistemática dos textos selecionados para a aula, tento por base as Fichas de Leitura (FL) da bibliografia. As FL consistem em um roteiro geral padronizado de leitura, que pode ser adaptado segundo as necessidades de cada aula, e que devem ser preenchidas pelos alunos previamente, para serem entregues (digitadas e impressas) ao final da aula em que foram discutidas. As FL têm, portanto, a tripla função de servir como base à preparação do aluno para a aula, como item da avaliação continuada do aluno e como memória sistemática dos debates sobre a bibliografia do curso.
- A FICHA DE LEITURA consiste no seguinte roteiro padrão, para o registro, breve e em tópicos, de aspectos centrais ao texto acadêmico em Ciências Sociais:
I - Elementos descritivos:
1. Objeto (teórico ou analítico)
2. Objetivos
3. Empiria ou fontes
4. Estrutura da argumentação
5. Conclusões (explícitas)
II - Questões analíticas:
6. Conceitos centrais
7. Diálogos e debates
8. Síntese pessoal do aluno, incluindo dúvidas e conexões para além do texto

PLANO DE CURSO




AVALIAÇÃO:
A avaliação será feita com base em três tópicos:
I. Entrega das 13 FL, impreterivelmente na aula correspondente. Para efeitos da avaliação serão consideradas apenas as 10 FL melhor avaliadas. As FL entregues e devidamente preenchidas serão avaliadas como:
o        Insuficiente (0,25 pontos),
o        Suficiente (0,5 pontos),
o        Boa (0,75 pontos) e
o        Muito Boa (1 ponto);
II. Apresentação do trabalho final, em data a ser definida na última aula. Os trabalhos serão avaliados com notas de 0 a 10.
III. Participação e contribuição efetiva nos debates em sala, incluindo o respeito à ética acadêmica. Neste caso serão atribuídos pontos extra, conforme as seguintes categorias de participação:
o        Suficiente (1 ponto),
o        Boa (2 pontos) e
o        Muito Boa (3 pontos)
A nota final resulta da média simples da nota atribuída ao conjunto das Fichas de Leitura e ao trabalho final, à qual pode ser acrescidos os pontos extras de participação.

NOTA SOBRE ÉTICA ACADÊMICA:
O estudante deve saber portar-se adequadamente em sala, com relação aos objetivos da Universidade, do seu curso*, assim como em respeito pessoal e intelectual ao professor e aos seus colegas de turma. O respeito intelectual não exclui divergência e discordância de ideias, pelo contrário, as supõe. Assim, a prática do debate aberto, mas respeitoso das posições, dos limites e do tempo dos demais colegas e do professor é fundamental.
A pontualidade e a frequência também fazem parte deste respeito, se atentarmos para o fato de a disciplina em geral e a aula em particular estarem mais próximos de uma narrativa cumulativa do que de um evento de fruição rápida e fragmentária. Pela mesma razão tal respeito exclui o uso da sala de aula para outras práticas, como leitura de jornal, comunicação por celular, ouvir música etc.
Finalmente, tal respeito se aplica também ao uso de ideias e textos na produção de suas provas e trabalhos, o que exclui a prática do plágio, ou seja, “a utilização de ideias ou formulações verbais, orais ou escritas de outrem sem dar-lhe por elas, expressa e claramente, o devido crédito, de modo a gerar razoavelmente a percepção de que sejam ideias ou formulações de autoria própria”**. O plágio é considerado falta gravíssima, implicando a atribuição de nota Zero na atividade em que for identificado.

(*) Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Ciências Sociais, disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/pf-ifch/public-files/graduacao/projeto-pedagogico-ciencias-sociais.pdf
(**) Código de Boas Práticas Científicas. FAPESP, 2014. Disponível em: http://www.fapesp.br/boaspraticas/FAPESP-Codigo_de_Boas_Praticas_Cientificas_2014.pdf)

BIBLIOGRAFIA


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sábado, 23 de fevereiro de 2019

Documentário "IV Encontro de Comunidades Quilombolas" (2006)




Acaba de ser disponibilizado no site de Koinonia o documentário "IV Encontro de Comunidades Quilombolas", sobre evento realizado em 2006, nas terras da comunidade quilombola de Preto Forro (RJ)". A produção passou 13 anos acessível apenas por meio físico e agora está disponível no site do Observatório Quilombola (link).



Os Encontros de Comunidades Quilombolas eram uma atividade regular da primeira fase do Projeto Egbé-Territórios Negros (2000-2003), realizado pela ONG Koinonia com recursos da Comunidade Econômica Européia. Os objetivos do projeto eram: formação em direitos e apoio jurídico, comunicação e elaboração de relatórios histórico-antropológicos, sobre comunidades remanescentes de quilombos dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
 
Para uma descrição do processo de elaboração, desenvolvimento deste projeto, associado a uma reflexão sobre o papel social do cientista social consultar WILLEMAN, E. M. ; ARRUTI, José Maurício Paiva Andion . Programa Egbé territórios negros: reflexões sobre um projeto de desenvolvimento local em base a identidade racial. O Social em Questão , v. 10, n. 18, p. 151-160, 2007. Disponível em: http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/v10n18a11.pdf


O IV Encontro de Comunidades Quilombolas atendidas pelo Projeto Etnodesenvolvimento Quilombola, realizado no mês de novembro de 2006, na comunidade de Preto Forro (Cabo Frio – RJ), encerrava um segundo ciclo de encontros, agora vinculados ao projeto Etnodesenvolvimento Quilombola, realizado por meio de convênio entre koinonia e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Iniciado em setembro de 2005, o projeto tinha por objetivo de consolidar e fortalecer as associações das comunidades quilombolas de Preto Forro, Ilha da Marambaia e Alto da Serra e promover a capacitação de sua população para a auto-gestão e para o desenvolvimento social, ambiental e culturalmente sustentável.

IV Encontro de Comunidades Quilombolas do estado do Rio de Janeiro. Data: 25 e 26 de novembro. Horário: 8-18hs. Local: Escola Agrícola Municipal Nilo Batista. Rodovia Amaral Peixoto (Trevo de Búzios), distrito de Tamoios, Cabo Frio – RJ.


Este evento, de 2006, reuniu pela primeira vez mais de cem representantes de diversas comunidades de todo o estado: Marambaia (Mangaratiba), Alto da Serra (Rio Claro), Santa Rita do Bracuí (Angra dos Reis), Sobara (Araruama), Santana (Quatis), Travessão de Campos e Barrinha (Campo dos Goytacazes) e Sacopã e Pedra do Sal (Rio de Janeiro). E serviu para fazer balanços e registros do processo de organização, mobilização e consenso em torno de demandas. O documentário, portanto, tem um caráter institucional, mas também registra um momento importante de amadurecimento da articulação entre as comunidades do estado, que vinha sendo promovida por diversos encontros regionais ao longo dos seis anos anteriores. 

Nele constam depoimentos de diversos participantes e entrevistas com as lideranças Miguel da comunidade de Santana (Quatis) e Uia da comunidade da Rasa (Búzios), sobre os temas Violência, Luta por reconhecimento, Memória e direitos, Cultura e identidade, e Mobilização. O documentário traz ainda a memória da viagem da "Campanha da Marambaia" até Brasília e a transcrição da "Carta de Cabo Frio - Recomendações às autoridades e órgãos públicos", resultado das discussões realizadas no evento.



IV Encontro de Comunidades Quilombolas: cor, 28'55''
Coordenação do projeto (1999-2006), produção e direção do documentário: José Maurício Arruti.
Produção: KOINONIA e Sumauma Produções
Disponível em: https://kn.org.br/oq/2019/02/11/iv-encontro-de-comunidades-quilombolas-preto-forro-rj/. Acessado em 23.02.2019.