terça-feira, 27 de agosto de 2019

O campo do patrimônio e os desafios da antropologia: Quilombos e processos de patrimonialização, na 43a ANPOCS

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FR05  O campo do patrimônio e os desafios da antropologia no Brasil contemporâneo
Nas últimas décadas, a noção de patrimônio ampliou-se consideravelmente no Brasil. Deixou de se referir apenas aos bens imóveis relacionados à noção de passado histórico e passou a englobar o cultural, o intangível, o genético, o intelectual. Deu-se início a um processo de “patrimonialização das diferenças” trazendo para o centro do debate a ênfase em narrativas plurais centradas na noção de diversidade. Essa mudança não foi apenas simbólica. Articulada a políticas e programas voltados para segmentos antes periféricos, ela propiciou o acesso a direitos até então dificilmente disponíveis, como o direito ao território, a políticas educacionais e de saúde diferenciadas e recursos financeiros.
No entanto, as recentes mudanças dos rumos políticos do país levaram a uma crise das políticas públicas na área do patrimônio, com a interrupção de programas e repasse de recursos, que impactam diretamente na atuação de cientistas sociais e dos grupos beneficiários. Esse simpósio, proposto no âmbito das atividades desenvolvidas pelo Comitê de Patrimônios e Museus da Associação Brasileira de Antropologia, procura refletir sobre os efeitos e os impactos dessa crise que se abate sobre o patrimônio. Ele se estrutura em torno dos seguintes eixos de reflexão:
a) A participação em conselhos consultivos: o/as antropólogos/as vêm há algumas décadas participando de conselhos consultivos de agências de patrimônio em escala nacional, estadual e municipal, além de também já terem ocupado a presidência de instituições de patrimônios estaduais e nacional. É tempo de avaliarmos quais os desafios encontrados por estes/as antropólogos/as no contexto destas agências. Como a antropologia tem contribuído para a garantia do reconhecimento da diversidade cultural? Quais dilemas éticos tem enfrentado? Quais conquistas foram possíveis em contextos que sabemos serem, por vezes, adversos? Este debate visa refletir sobre a importância de termos como pauta deste Comitê de Patrimônios e Museus a demanda por representações da antropologia em todos os conselhos estaduais, além da já histórica e importante presença no conselho do IPHAN, sobretudo no atual contexto de dissolução dos mesmos.
b) A atuação nas práticas de identificação e registro do patrimônio imaterial: a ampliação e a democratização das políticas patrimoniais, sobretudo a partir da criação das políticas voltadas para o patrimônio imaterial, trouxeram novos atores e demandas para o campo do patrimônio e favoreceram a emergência de novos sujeitos de direito coletivo.  Propiciaram, outrossim, novas formas de atuação para antropólogos e demais cientistas sociais, através de um mercado de trabalho crescente em que são chamados para identificações, documentações, pesquisas, inventários, laudos, elaboração de dossiês e mapeamentos de saberes tradicionais, festas, celebrações, rituais e um manancial crescente de expressões e práticas performativas singulares. Procuramos aqui refletir sobre os impactos dessa crise política no campo do patrimônio imaterial e nos modos de atuação dos cientistas sociais envolvidos nos processos de patrimonialização.
c) Os impactos na vida dos seus detentores: somada ao avanço das políticas de caráter neoliberal e dos projetos desenvolvimentistas, essa virada política conservadora impacta diretamente na vida de populações indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais, bem como na de moradores de periferias urbanas. Uma de suas consequências diretas é o retrocesso dos direitos dessas minorias e uma crise das políticas culturais e patrimoniais que lhes eram destinadas, colocando em risco o seu patrimônio material e imaterial, os seus modos de vida, a sua integridade física e, num sentido mais amplo, ameaçando a garantia da pluralidade étnico-cultural. Por esses motivos, consideramos fundamental propor ruma mesa-redonda que acompanhe essa nova realidade e contribua com suas reflexões a partir de suas respectivas realidades observadas.
Coordenação geral: Simone Vassallo (UFF) e Izabela Tamaso (UFG)
1ª sessão: A experiencia de cientistas sociais em conselhos consultivos
Dia 22/10, terça-feira, das 17h30 às 19h00
Coordenadora de sessão: Izabela Tamaso (UFG)      
Palestrantes: Silvana Rubino (Unicamp), José Guilherme Magnani (USP), Heitor Frugoli Jr.(USP)
2ª sessão: Antropologia e patrimônio imaterial, entre reflexão e ação        
Dia 23/10, quarta-feira, das 17h30 às 19h00
Coordenadora de sessão: Simone Vassallo (UFF)
Palestrantes: Regina Abreu (UNIRIO), Leticia Vianna (UNB), Antonio Motta (UFPE)
3ª sessão: Patrimônios e populações em risco              
Dia 24/10, quinta-feira, das 17h30 às 19h00
Coordenadora: Regina Abreu (UFRJ)                           
Palestrantes: José Mauricio Arruti (UNICAMP), Luciana Carvalho (UFOPA), Simone Vassallo (UFF)

Lançamento do documentário "Escola Pankararu: Viagem por um território da educação diferenciada" na 43a ANPOCS

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MOSTRA DE FILMES
  • A vida é um remanso.  
    Pâmilla Vilas Boas Costa Ribeiro (USP).2017 . Ponto Chique, São Romão, São Francisco/MG. 23min51seg.
  • (Des)integração.  
    Leonardo Alcântara (Inst. Metod. Granbery). 2018. Juiz de Fora/MG. 30 min.   
  • Escola Pankararu: Viagem por um território da educação diferenciada.  
    Raphael Malta Clasen (Limbo Filmes) e José Maurício Arruti (Unicamp). 2018. Recife/PE. 25min15seg
  • Fè Mye Talè – Tudo vai ficar bem, logo.  
    Henrique Lahude (NAVISUAL/UFRGS). 2018. Encantado/RS. 16min.
  • Revolução Silenciosa: 10 anos de cotas raciais na UFSC.
    Lucas Krupacz (CEA/USP). 2018. Florianópolis/SC. 23min31seg.
  • Tudo tem kusiwa.  
    André Lopes (SAMI/IPHAN) e Dominique Tilkin Gallois (USP). 2017. São Paulo e Pedra Branca do Amapari. 25 min.
  • Voz dos Sinos.  
    Thiago de Andrade Morandi (UFSJ). 2017/2018. São João del Rei/MG. 9min.
  • Vozes da Resistência.
    Fernanda Sanglard e Victor Zaiden (Integrantes da Comissão da Verdade em Minas Gerais). 2018. Belo Horizonte e Juiz de Fora/MG. Brasil. 23m52s














INFORMAÇÕES SOBRE O DOCUMENTÁRIO

Título completo: Escola Pankararu: Viagem por um território da educação diferenciada 

Direção: José Maurício Arruti E Raphael Malta Clasen

Ano da produção/realização: 2018

Local (cidade, sigla do estado e país) da produção: Recife/PE/Brasil

Tempo de duração em minutos (conforme citado no edital não deve exceder 30 minutos): 25:15

Suporte de Captação: Digital Full HD

Suporte de Exibição: Digital H264 Full HD

Vínculo institucional dos autores/realizadores: José Maurício Arruti (UNICAMP); Alessandra Traldi Simoni (UNICAMP) e Raphael Malta Clasen (Limbo Filmes)

Vínculo institucional da realização da obra (se houver): UNICAMP, CNPq, Verthic.
Outras informações pertinentes: As filmagens foram feitas em 2015 e o filme foi finalizado em 2018.

Sinopse: O filme, realizado durante intercâmbio entre professores indígenas do Médio Xingu e Pankararu, traz depoimentos e entrevistas sobre a Escola Pankararu: as motivações, as propostas, os entraves e desafio enfrentados pelo povo Pankararu n a construção de seu sistema de educação diferenciada, que contava, em 2015, com 20 escolas estadualizadas nas Terras Indígenas Pankararu e Entre-Serras (PE), onde aproximadamente 200 professores lecionam para 3.000 alunos. O sistema escolar Pankararu também conta com um Museu Escola, local em que conhecedores de diversas técnicas e práticas de artes e artesanatos são compartilhadas com os alunos, proporcionando a transmissão de saberes do patrimônio material e imaterial. 


Links para o filme:
- Versão legendada em português: https://vimeo.com/464701837
- Verão legendada em inglês: https://vimeo.com/464703570

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Afirmação indígena no Baixo Tapajós: Território, Memória e Políticas


Dossiê Afirmação indígena no Baixo Tapajós: Território, Memória e Políticas
(Org.: G. C. L. Rodrigues, J. M. Arruti, L. G. de Carvalho, S. M. G. da Costa
ISSN 2594-3987
DOI: http://dx.doi.org/10.30810/rcs.v3i5Revista Ciências da Sociedade v. 3, n. 5, Ago 2019.



"Há cerca de 20 anos, o livro “A viagem da volta”, organizado por Pacheco de Oliveira (1999), marcou época ao reunir um expressivo conjunto de trabalhos antropológicos que examinavam o fenômeno das chamadas etnogêneses indígenas ocorridas na região Nordeste do Brasil ao longo de todo o século 20. O volume ajudou a dar visibilidade e legitimidade aos estudos de uma Área Etnográfica, tanto quanto a um tipo de problema etnográfico: os “índios misturados” e seus processos de “resgate”, “revalorização” ou “reconstituição” de suas indianidades. Naquele contexto, a situação dos grupos indígenas de “surgimento” recente e de aparência camponesa era evocada como um paradoxo, que ganhava especial relevo quando confrontado com as representações idealizadas e mediatizadas do índio amazônico, indiscutivelmente autóctone e marcado por clara distintividade cultural.
Ao mesmo tempo em que aquele livro era publicado, entretanto, na própria região amazônica, que lhe servia como tropo do índio ideal, diversos coletivos anteriormente classificados como mestiços ou caboclos também começavam a afirmar a sua descendência, sua memória e sua tradição indígenas, dando início a um processo semelhante, em vários aspectos, ao das etnogêneses nordestinas [...]
Um intenso processo de afirmação étnica iniciou-se no Tapajós em 1998, ano em que lideranças da comunidade de Takuara, município de Belterra procuram a FUNAI de Itaituba (Santarém sequer havia FUNAI) para informar a decisão de resgatar a identidade e indígena Munduruku e iniciar procedimentos oficiais para efetivar legalmente a decisão. Em 2000 foi criado o Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA) para representar as diversas associações indígenas que se espalhavam pela região e, em 2013, reconhecendo a importância deste movimento, a Funai abre um escritório em Santarém. No baixo Tapajós existem, atualmente, 64 comunidades ou aldeias reivindicando pertencimento étnico a treze etnias diferentes: Apiaka, Arapium, Arara Vermelha, Borari, Cara-Preta, Cumaruara, Munduruku, Maytapú, Jaraqui, Tapajó, Tupinambá, Tupaiu e Tapuia." (trecho da Apresentação)



Ritual de abertura dos I Jogos Indígenas do Baixo Tapajós e Arapiuns (I JIBAT). Cabeceira do Amorim, Santarém/PA, Mai, 2016



Sumário


Expediente
PDF
0-7

Editorial
Gilberto César Lopes Rodrigues, José Maurício Arruti, Luciana Gonçalves de Carvalho, Solange Maria Gayoso da Costa
PDF
8-13

Dossiê – Artigos

Emergência indígena e abertura da história no Baixo Tapajós
ib Sales Tapajós, Nirson Medeiros da Silva Neto
PDF
14-38

Chamado do Pajé: regimes de memória, apagamentos e protagonismo indígena no baixo Tapajós
Edviges Marta Ioris
PDF
39-60

Pajelança nas adjacências do Rio Amazonas: dimensões sociopolíticas e cosmológicas
Leandro Mahalem de Lima
PDF
61-91

Reflexões sobre processos de constituição do movimento indígena no Baixo Tapajós a partir de narrativas femininas
Luana Lazzeri Arantes
PDF
92-117

Território, educação e língua: notas sobre a afirmação étnica Munduruku no Baixo Tapajós
José Maurício Arruti, Judith Costa Vieira, Sâmela Ramos da Silva
PDF
118-139

Os Borari e os Arapium: história do tempo presente
Kércia Priscilla Figueiredo Peixoto, Rodrigo Corrêa Diniz Peixoto
PDF
140-168

O direito ao Autorreconhecimento na reafirmação étnica na região do Tapajós, Santarém-PA
Domingos Bruno Gonçalves Marques
PDF
169-186

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Presença Indígena no Rio de Janeiro

Dossiê Presença Indígena no Rio de Janeiro
(org. J. M. Arruti)
Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
Núemro 16, Ago 2019
ISSN: 1983-6031


"Falar da presença indígena na cidade do Rio de Janeiro poderia parecer inusitado, fruto de pura curiosidade por assuntos residuais, não fosse o modo como diferentes grupos indígenas passaram a ocupar e fazer a cidade nos últimos anos. Hoje é possível flagrar a presença indígena na cidade maravilhosa por meio de eventos pontuais, como a venda de artesanato em feiras e encontros culturais, a apresentação de palestras e danças em escolas e a participação em experiências de curadorias compartilhadas de exposições realizadas em importantes museus. Uma presença que ganha contornos mais regulares ou permanentes, ainda que menos visíveis, com a circulação de xamãs indígenas entre grupos de religiosidade New Age, e a entrada de jovens estudantes indígenas em universidades públicas e privadas. De uma forma e de outra, a intensificação desta presença tem produzido, por sua vez, uma releitura da cidade por parte dos próprios indígenas que, numa espécie de indigenização do espaço carioca, levou à reivindicação de territórios indígenas, na cidade ou em suas imediações. 
Como acontece com frequência, esta reimaginação social impõe novas questões para a interpretação histórica, sociológica e antropológica. Perguntas que deixaram de ser feitas, informações e documentos aos quais não foi dada a devida atenção tornam-se visíveis, interessantes, significativos. Tanto mais porque as perguntas provocadas pela presença indígena na cidade do Rio de Janeiro comunicam-se com perguntas mais largas, sobre a presença indígena em outras grandes cidades do Brasil e da América Latina em geral..." (trecho da Apresentação)


Imagem da indígena Niara do Sol, na Horta Carioca do São Carlos. Fotografia: Camila Bevilaqua



SUMÁRIO

Apresentação
POR JOSÉ MAURÍCIO ARUTTI

Presença e atuação indígena na cidade do Rio de Janeiro: das origens ao século XIX
POR MARIA REGINA CELESTINO

Rio de Janeiro: território da diplomacia indígena (século XX)
POR ANA PAULA DA SILVA

População indígena: o caso do Estado do Rio de Janeiro nos Censos Demográficos de 2000 e 2010
POR BARBARA COELHO BARBOSA DA CUNHA, BRUNO NOGUEIRA GUIMARÃES, ANDRÉA SOBRAL E RICARDO VENTURA SANTOS

De quem estamos falando? Indígenas residentes no Rio de Janeiro segundo o Censo Demográfico de 2010
POR MARDEN BARBOSA DE CAMPOS E MARCOS DAMASCENO

Aldeia Maracanã: militância política de protagonismo indígena na cidade do Rio de Janeiro
POR VINICIUS PEREIRA DOS SANTOS

Uma aldeia vertical: vivências indígenas no Rio de Janeiro
POR CAMILA BEVILAQUA

O Rio e a Floresta: articulações Huni kuin – Rio de Janeiro-Ayahuasca
POR MAICON FECHER E ELIZABETH PISSOLATO