sábado, 29 de fevereiro de 2020

Disciplina TEORIAS E EXPERIMENTAÇÕES ETNOGRÁFICAS (HZ360): LABORATÓRIO Etnografia em tempos de Pandemia

Disciplina
TEORIAS E EXPERIMENTAÇÕES ETNOGRÁFICAS (HZ360): LABORATÓRIO Etnografia em tempos de Pandemia

Prof. José Maurício Arruti
Monitores: Juliana Fidelis, Lais Marachini, Laura Andrade, Gustavo Gonçalves.

Contextualizando

O período de isolamento imposto pela pandemia de Covid19 implicou drásticas alterações no planejamento do nosso curso, como decorrência das drásticas alterações impostas às nossas vidas em geral. A singularidade da situação está nela ser compartilhada quase simultaneamente por metade dos habitantes do planeta. Um fenômeno inédito por suas dimensões e prováveis efeitos, que têm levado muitos a se perguntarem sobre quão profundas e duradouras serão as marcas dessas alterações em nossas vidas depois de encerrado o isolamento. Uma das dúvidas amplamente compartilhada é mesmo se o isolamento terá fim, ou se retornaremos à normalidade anterior a ele. Ao se discutir o pós-isolamente discute- se também o que seria este “novo normal”.

Há os que falem da perpetuação de vários dos efeitos que nos foram impostos como temporários, isto é, a normalização do fechamento das fronteiras nacionais, do distanciamento social, da precarização do trabalho via home office, do controle digital que alguns estados estão impondo às suas populações etc. Assim como há os que falem das oportunidades que este momento nos abre, ao eliminar a terceirização das nossas crianças e velhos, ao estancar o consumismo e impor uma paralisia ao movimento do capital que nenhum movimento social havia conseguido, ao nos permitir refletir sobre os impactos das alterações ambientais sobre o mundo etc.

Enfim, talvez não estejamos diante apenas de um fenômeno social, mas de uma nova instituição social. De uma forma ou de outra, cabe-nos como cientistas sociais ou, mais especificamente, como antropólogos, pensar estas novas formas de vida, de socialidade, de trabalho, de comunicação, de ritualização do cotidiano ou de alteração dos rituais tradicionais (como , por exemplo, os enterros, o esporte, as visitas familiares...) diante do fenômeno do isolamento e da extensão (colonização?) do mundo virtual (on-line) sobre o mundo presencial. O que isso está produzindo, quanto disso é transitório e quanto disso passará a constituir o nosso “novo normal”?

A proposta

Por mais que essas questões sejam angustiantes (ou justo por isso), elas também são boas para pensar. Assim, surge a proposta de convertermos os limites que foram impostos a este curso em matéria de reflexão do próprio curso, justamente abrindo um laboratório dedicado ao exercício do registro etnográfico sobre o que vem a ser a vida social sob o isolamento social.

Não estamos sendo originais nesta proposição. O volume de produção em ciências sociais sobre os efeitos da pandemia e do isolamento tem crescido a cada dia. Textos mais ou menos rápidos, mais ou menos confessionais, mais ou menos analíticos, mais ou menos etnográficos, têm se multiplicado na internet, muitos deles respaldados pelo selo de renomadas associações e instituições de pesquisa. Há até algumas iniciativas de registro das experiências pessoais diante desta situação, seja na forma de questionários sócio-epidemiológicos, seja na forma de repositório de depoimentos escritos ou de depoimentos gravados, a serem disponibilizados para os historiadores futuros. O projeto “Antropologia e Pandemia”, que realizamos em parceria com os professores Isadora França, Tanieli Rui (professores do Departamento de Antropologia), Gustavo Rossi e Bernardo Machado (pesquisadores pós-doc do PPGAS) tem por objetivo fazer um breve mapeamento desta produção. O primeiro episódio, já disponível, faz um apanhado geral de algumas dessas iniciativas. Os quatro próximos episódios programados pretendem falar sobre como alguns temas emergem nesta produção: A etnografia da pandemia; Pandemia, desigualdades e relações raciais; Pandemia, violência e gênero; e, finalmente, Pandemia e fins do mundo.

Enquanto lemos a bibliografia básica sobre etnografia e acompanhamos as reflexões oferecidas pelo projeto Antropologia e Pandemia, o nosso laboratório deve estimular a produção e discussão das nossas próprias etnografias sobre e neste isolamento social. Acrescentaremos ainda a este conjunto, a discussão sobre dois conceitos possivelmente úteis neste contexto: auto-etnografia e etnografia on-line.

Metodologia

O curso passará a contar com três tipos de atividades, desenvolvidas de forma articulada, em aulas alternadas.

  • Aulas expositivas e discussão bibliográfica: dando continuidade às 3 aulas iniciais, leremos etnografias (ou comentários a elas) sobre temas afins à nossa condição atual de pandemia e isolamento social;

  • Resenhas da produção recente em Ciências Sociais sobre a Pandemia: debateremos os episódios do projeto “Antropologia e Pandemia” e textos dos alunos inspirados nesses episódios. Neste caso, a tarefa dos alunos é realizar uma resenha que busque destacar nos artigos selecionados (de três a seis) suas qualidades etnográficas: a) de conteúdo: quando os artigos contribuem na construção de uma leitura etnográfica de um determinado assunto de interesse

(país, região, tema, instituição, recorte social etc.); ou b) de forma: quando os artigos podem oferecer bons exemplos de como elaborar uma perspectiva etnográfica mesmo em situação de isolamento.

Produção de relatos: discutiremos breves ensaios dos próprios alunos inspirados na ideia de ‘etnografia da pandemia’. Neste caso, os alunos devem escolher uma data (dentre as disponibilizadas) para apresentar seus relatos preliminares (que devem ter entre 60 e 90 linhas), enviando-os para o e-mail do professor e dos monitores com uma semana de antecedência, de forma que ele possa ser socializado com a turma. Os relatos deverão ser lidos em aula, abrindo-se para o seu debate logo em seguida. Com base nas contribuições trazidas por esses debates, os alunos deverão apresentar a versão final dos seus relatos (textos de 90 a 180 linhas) até o encerramento do semestre.

Avaliação

A avaliação neste semestre, conforme orientação geral adotada pelo IFCH, consistirá na atribuição de um conceito único S (suficiente) para todos os alunos que participarem da disciplina, restando a opção de conceito F (falta) para os alunos que não participarem. A participação será caracterizada pela realização de parte das atividades previstas acima: pelo menos duas Resenhas da produção recente em Ciências Sociais sobre a Pandemia e as duas Produções de relatos individuais (preliminar e final). O conceito F pode ser substituído pelo conceito S até o final do semestre seguinte, mediante a entrega das atividades descritas, acompanhadas de justificativa. No caso de não ser possível caracterizar participação no prazo previsto, o conceito atribuído será I (insuficiente), o que significa reprovação na disciplina.

Peço atenção ao PARECER DA CONGREGAÇÃO No 169/2020, postado no mural da turma (em especial os itens de 4 a 7), que orienta docentes e discente com relação aos procedimentos no caso de dificuldade ou impossibilidade de participação na disciplina.