Dossiê Afirmação indígena no Baixo Tapajós: Território, Memória e Políticas
(Org.: G. C. L. Rodrigues, J. M. Arruti, L. G. de Carvalho, S. M. G. da Costa
ISSN 2594-3987
DOI: http://dx.doi.org/10.30810/rcs.v3i5Revista Ciências da Sociedade v. 3, n. 5, Ago 2019.
"Há cerca de 20 anos, o livro “A viagem da volta”, organizado por Pacheco de Oliveira (1999), marcou época ao reunir um expressivo conjunto de trabalhos antropológicos que examinavam o fenômeno das chamadas etnogêneses indígenas ocorridas na região Nordeste do Brasil ao longo de todo o século 20. O volume ajudou a dar visibilidade e legitimidade aos estudos de uma Área Etnográfica, tanto quanto a um tipo de problema etnográfico: os “índios misturados” e seus processos de “resgate”, “revalorização” ou “reconstituição” de suas indianidades. Naquele contexto, a situação dos grupos indígenas de “surgimento” recente e de aparência camponesa era evocada como um paradoxo, que ganhava especial relevo quando confrontado com as representações idealizadas e mediatizadas do índio amazônico, indiscutivelmente autóctone e marcado por clara distintividade cultural.
Ao mesmo tempo em que aquele livro era publicado, entretanto, na própria região amazônica, que lhe servia como tropo do índio ideal, diversos coletivos anteriormente classificados como mestiços ou caboclos também começavam a afirmar a sua descendência, sua memória e sua tradição indígenas, dando início a um processo semelhante, em vários aspectos, ao das etnogêneses nordestinas [...]
Um intenso processo de afirmação étnica iniciou-se no Tapajós em 1998, ano em que lideranças da comunidade de Takuara, município de Belterra procuram a FUNAI de Itaituba (Santarém sequer havia FUNAI) para informar a decisão de resgatar a identidade e indígena Munduruku e iniciar procedimentos oficiais para efetivar legalmente a decisão. Em 2000 foi criado o Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA) para representar as diversas associações indígenas que se espalhavam pela região e, em 2013, reconhecendo a importância deste movimento, a Funai abre um escritório em Santarém. No baixo Tapajós existem, atualmente, 64 comunidades ou aldeias reivindicando pertencimento étnico a treze etnias diferentes: Apiaka, Arapium, Arara Vermelha, Borari, Cara-Preta, Cumaruara, Munduruku, Maytapú, Jaraqui, Tapajó, Tupinambá, Tupaiu e Tapuia." (trecho da Apresentação)
Ritual de abertura dos I Jogos Indígenas do Baixo Tapajós e Arapiuns (I JIBAT). Cabeceira do Amorim, Santarém/PA, Mai, 2016 |
Sumário
Expediente
0-7
Editorial
Gilberto César Lopes Rodrigues, José Maurício Arruti, Luciana Gonçalves de Carvalho, Solange Maria Gayoso da Costa
8-13
Dossiê – Artigos
Emergência indígena e abertura da história no Baixo Tapajósib Sales Tapajós, Nirson Medeiros da Silva Neto
14-38
Chamado do Pajé: regimes de memória, apagamentos e protagonismo indígena no baixo Tapajós
Edviges Marta Ioris
39-60
Pajelança nas adjacências do Rio Amazonas: dimensões sociopolíticas e cosmológicas
Leandro Mahalem de Lima
61-91
Reflexões sobre processos de constituição do movimento indígena no Baixo Tapajós a partir de narrativas femininas
Luana Lazzeri Arantes
92-117
Território, educação e língua: notas sobre a afirmação étnica Munduruku no Baixo Tapajós
José Maurício Arruti, Judith Costa Vieira, Sâmela Ramos da Silva
118-139
Os Borari e os Arapium: história do tempo presente
Kércia Priscilla Figueiredo Peixoto, Rodrigo Corrêa Diniz Peixoto
140-168
O direito ao Autorreconhecimento na reafirmação étnica na região do Tapajós, Santarém-PA
Domingos Bruno Gonçalves Marques
169-186
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