segunda-feira, 5 de março de 2012

Ação Missionária e Etnogênese no Nordeste (CEBRAP 2004-2006)

Foi a participação no GT “Missões Cristãs e populações indígenas”, coordenado pela Paula Monteroda na XIII RBA (2002), que evidenciou para mim a importância de um tema latente no material sobre as etnogêneses indígenas do Nordeste.

O projeto “Ação Missionária e Etnogênese no Nordeste”, apresentado por solicitação do grupo de pesquisa coordenado por Montero no CEBRAP, partia da observação de que o vigor dos chamados “ressurgimentos” étnicos, ou “viagens de volta”, que ocorriam no Nordeste desde 1970, mantinham importantes diferenças com relação à ocorrência do fenômeno na primeira metade do séc. XX. Minha hipótese era que tais diferenças estariam diretamente relacionadas à estruturação e expansão de um “campo indigenista” na região, no qual as missões católicas, representadas principalmente pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário), teriam um papel central. O diálogo com as outras pesquisas do grupo temático chamou atenção ainda para como a presença e mediação da ação missionária havia permitido aos atores daqueles processos traduzirem as “emergências”, “resgates” e “invenções” em termos de diferentes modalidades de “conversão”, tanto de indígenas quanto missionárias. O projeto apontava, assim, para uma forte inspiração desta que convencionamos chamar de uma Antropologia Simétrica. Ao lado disso, o ritual indígena do Toré assumia também um novo papel teórico, ao ser lido como uma dessas modalidades de código privilegiado para a mediação cultural, ao transitar da mística à ação política, da teologia à estratégia, da pragmática à poética, do ritual à máquina de guerra.

Tais reflexões resultaram nos artigos “A Produção da alteridade - conversões missionárias e indígenas”, publicado da coletânea Deus na Aldeia: missionários, índios e mediação cultural (Montero [org.], 2006 [ Clique aqui]), reunindo os trabalhos elaborados e discutidos ao longo dos três anos de projeto desenvolvido no CEBRAP, e “Da memória Cabocla à história indígena: o processo de mediação entre conflito e reconhecimento étnico”, publicado na coletânea Mitos, projetos e práticas políticas (Soihet, Almeida, Azevedo e Contijo [orgs.], 2009 [Clique aqui]), que reuniu trabalhos apresentados em um extenso seminário organizado pelo Núcleo de Pesquisas em História Cultural da UFF. Trabalhos que, apesar do investimento na temática quilombola, mantiveram e atualizaram os meus vínculos com os campos da etnologia e da história indígena.

Por outro lado, tais reelaborações permitiriam retomar o programa de investigação sobre o “estilo étnico” Pankararu e perspectivar seu próprio processo de extinção / emergência. Eu acrescentava à etnografia de 1930-40 os aportes da pesquisa relativa ao período pós-1970 no Nordeste, mas também dados sobre a inserção deste grupo no contexto urbano paulistano.

Enquanto desenvolvia a pesquisa sobre os Xocó, vinculada ao grupo Missões Cristãs em Áreas Indígenas, dei início a uma investigação sobre o movimento migratório e a reterritorialização Pankararu, com o apoio do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), também sediado no CEBRAP. Comecei a reunir dados sobre a constituição e distribuição da população indígena na cidade de São Paulo, suas instâncias de representação e mediação, dando especial atenção ao processo de entrada de jovens Pankararu em cursos universitários da PUC-SP. Esses acúmulos seriam interrompidos, porém, com a minha entrada no Departamento de Educação da PUC-Rio [Clique aqui para as pesquisas e aqui para as orientações neste período].
 .

Nenhum comentário:

Postar um comentário